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FOTO: Nuzman é conduzido pela Polícia Federal |
O enriquecimento do dirigente com o aumento espetacular de seu patrimônio pessoal – 457% nos últimos 10 anos – sem que haja uma justificativa segundo o Ministério Público Federal, precisa ser investigado a fundo. O presidente do Comitê Olímpico do Brasil, seu braço direito e homem forte na Rio 2016, Leonardo Gryner, assim como todos os diretores e assessores da entidade que possam estar envolvidos na compra de votos para a escolha do Rio como sede da Olimpíada devem ser exemplarmente punidos, caso sejam comprovadas as irregularidades e a responsabilidade de cada um pela Polícia Federal e o MPF. Mas isso não é tudo.
A necessária moralização do esporte no Brasil vai muito além de colocar cartolas atrás das grades. É preciso um conjunto de medidas, uma nova cultura de gestão e novas práticas que garantam a transparência e o controle dessas entidades – em boa parte verdadeiras caixas pretas - pelos órgãos fiscalizadores, pela comunidade esportiva e, em última instância, por toda a sociedade.
Criar mecanismos eficazes de rastreamento do dinheiro oriundo de leis de incentivo ou de fundos públicos de fomento à formação e ao esporte de alto rendimento é essencial. Só assim se terá a garantia de que os recursos sejam investidos no que interessa, no desenvolvimento das modalidades, sem servir ao financiamento de mordomias, de projetos megalômanos que só interessam aos donos do poder.
E preciso renovação. Sob qualquer ponto de vista é lesivo que dirigentes, como Nuzman, há 22 anos comandando o COB, se eternizem no cargo, passem décadas à frente de clubes, federações e confederações transformando-se, se não por outro motivo, apenas pela longevidade, nos verdadeiros donos do esporte nacional. É inevitável que isso crie uma promiscuidade danosa entre o coletivo e o particular, o público e o privado, gerando vícios e desvirtuando negociações – por vezes negociatas – ao bel prazer da cartolagem.
É preciso que os patrocinadores também mudem de postura. Que também eles funcionem como impulsionadores das transformações necessárias. Não basta investir no Esporte. É preciso fazer deste investimento uma espécie de certificado de idoneidade, de eficiência dos gestores esportivos. Em cada clube, em cada modalidade.
A solução é simples. Saiu da linha, aplicou mal os recursos, e, principalmente, envolveu-se em escândalos, está fora. O Esporte precisa já de uma lei da ficha limpa. É assim que vai se cortar na fonte os propinodutos que alimentam os bastidores do poder e perpetuam o status quo. Que roubam dos atletas, de hoje e do futuro, de quem soa a camisa, o direito sonhar com dias melhores.
OURO NA SUÍÇA
Carlos Arthur Nuzman foi preso em casa, no bairro do Leblon, na Zona Sul do Rio, logo no início da manhã de hoje. Agentes da Polícia Feral participaram da ação, que também teve como alvo Leonardo Gryner, ex-diretor de marketing do COB e ex-diretor de marketing e comunicação do Comitê Rio 2016. A prisão de ambos é temporária, válida por cinco dias, ao fim dos quais pode ser transformada em prisão preventiva, sem prazo para libertação. Nuzman, que é investigado por intermediar pagamento de propina para a escolha do Rio como sede dos Jogos Olímpicos de 2016, é acusado agora de obstrução da justiça e ocultamento de patrimônio. Depois da primeira operação da polícia, a Unfair Play, ramificação da Lava-Jato, realizada em setembro, o presidente do COB tentou legalizar 16 kg de barras de ouro depositadas em um banco da Suíça, fazendo uma retificação de Imposto de Renda que chamou a atenção do Ministério Público. Além disso, documentos que mostram contatos diretos de dirigente e de Gryner com Papa Diack, filho do ex-presidente da Federação Internacional de Atletismo e acusado de ser o receptor e distribuidor do dinheiro usado na compra de votos foram encontrados e fundamentaram o pedido de prisão.
PALAVRA DA DEFESA
A defesa de Carlos Arthur Nuzman considerou dura e desnecessária a prisão determinada pela Justiça Federal do Rio. O advogado Nélio Machado se disse pego de surpresa com a decisão. "Vou me inteirar dos fatos agora. Eu não tenho a menor ideia. Vou saber agora o que se passa e quais são os fundamentos dessa medida. É uma medida dura e não é usual dentro do devido processo legal", afirmou ele.
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