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O PREÇO DA IRRESPONSABILIDADE OU CERTEZA DE IMPUNIDADE?

Dona Maria Vicentina Pereira, de 56 anos, tem orgulho de mostrar os novos óculos de grau que comprou. É um objeto simples, mas que representa muito na vida da encarregada de limpeza, tia do ciclista Wanderson Pereira dos Santos, atropelado no dia 17 de março do ano passado pelo estudante Thor Batista. Foi graças à fatia que recebeu de um acordo de R$ 1 milhão com o atropelador e o pai dele, o empresário Eike Batista, que a vida dela e a da companheira da vítima, Cristina dos Santos Gonçalves, mudaram. Com a divulgação do acordo extrajudicial pela defesa de Thor, as duas mulheres, o advogado delas e um bombeiro, amigo da família, podem receber mais R$ 2,5 milhões, o que pode tornar o homicídio culposo proveniente de um atropelamento mais caro do judiciário brasileiro.
Pelo acordo assinado por Thor, Eike, Maria Vicentina, Cristina e o bombeiro Márcio Tadeu Rosa da Silva, ficou estabelecido que eles não poderiam mais dar entrevistas sobre o acidente e nem, de forma alguma, divulgar o teor do contrato. Segundo o advogado da família da vítima, Cleber Carvalho Rumbelsperger, os parentes de Wanderson receberam a proposta cinco dias depois do acidente. Para ele, o objetivo do réu era justamente o de abafar o caso. Por isso, foi estabelecida uma cláusula de confidencialidade no acordo que, se uma das partes não cumprisse ou o trouxesse a público, deveria arcar com o ônus de pagar R$ 500 mil.
— Era interesse deles que o assunto sumisse da mídia. A intenção era nos calar. Nós cumprimos o acordo, mas eles não fizeram a parte deles. Não acredito que um escritório como o do ex-ministro Márcio Thomaz Bastos, que defende Thor, tenha liberado essa informação por burrice. Na verdade, eles querem mostrar que não abandonaram a família para reduzir a pena — dispara o advogado.
Até agora, do total de R$ 1 milhão já pago por Thor e Eike, Maria Vicentina e Cristina ficaram, cada uma, com R$ 315 mil, além do bombeiro, que recebeu R$ 100 mil. Coube ao advogado delas a quantia de R$ 270 mil pelos honorários advocatícios. Com a quebra do acordo, o advogado exige os R$ 500 mil, e cerca de R$ 2 milhões de dano moral.
— Os danos morais nós vamos quantificar, pois o assédio moral que os parentes da vítima estão sofrendo, depois da divulgação do acordo, tem sido enorme. Ainda não tenho parâmetros, mas pode ultrapassar ou não R$ 2 milhões. Nós estamos enfrentando o homem mais poderoso economicamente do país — disse Cleber.
A família também pretende processar a Concer por causa das más condições da Rio-Petrópolis, onde ocorreu o acidente. Além de mover uma ação contra o estado, devido ao sumiço de provas durante as investigações policiais, como a bicicleta usada por Wanderson.
— Preferia mil vezes que o Wanderson não tivesse morrido a receber este dinheiro, mas já que é meu direito, vamos até o final. Eu me senti traída quando vi que o acordo foi divulgado. Até os vizinhos me pedem dinheiro. Não me sinto segura — disse Maria Vicentina, que precisou deixar a casa onde mora.
Tia de vítima tem carinho por Thor
A companheira de Wanderson conta que está sofrendo assédio até de colegas de trabalho.
— Tem gente que acha que me dei bem. Fazem piada. Eu fico calada, mas isso me incomoda. Terei que deixar de trabalhar — reclamou Cristina.
Além dos óculos novos, Maria Vicentina conta que pôde comprar roupas em lojas em que nunca imaginou entrar algum dia. Deu a casa que morava no bairro Nova Campina, em Duque de Caxias, para um dos três filhos e comprou uma residência maior, de dois andares, num outro bairro da Baixada Fluminense. Dividiu o restante da indenização com os três filhos e uma irmã. Apesar de estar magoada com Thor, ela não esconde o carinho que sente pelo rapaz:
— Nos falamos duas vezes na vida. No dia 25 de dezembro, ele me ligou para desejar feliz Natal. Ele me contou que estava com medo de ser preso, porque a juíza era durona. Disse que ele ficasse tranquilo e entregasse para Deus. Não sinto raiva dele.
O advogado de Thor, Celso Vilardi, negou ter divulgado o acordo.

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