Quem sai de casa de bicicleta nunca sabe como a noite vai ser. Você pode passar em dois, três lugares, encontrar um amigo no caminho, e mudar de rumo... Começar a noite em Botafogo e terminar na Lapa, e tudo sem gastar nada em transporte diz Mariana, que sempre leva na bolsa da noitada uma câmara, uma bomba de ar e um kit de chaves 15, caso o pneu fure no trajeto.
As vantagens listadas pelos ciclistas notívagos vão desde a liberdade que o veículo dá até a economia nas contas do mês, passando pelo exercício físico.
O trajeto relaxa a cabeça e, ao mesmo tempo, te deixa mais animado para a festa comenta o empresário Ciro Luporini, 30 anos, parte do grupo Rio Fixed Gear, que reúne amantes das bicicletas de roda fixa (que não têm marcha e freio no guidom).
Parte da turma dos fixeiros, o economista Vinícius Tesfon, de 26 anos, faz questão de dar desconto para quem vai de bike para a festa que produz, a Manie Dansante. A Rave Gótica, que rolou na La Cueva, em Copacabana, na última quinta-feira, também tem preço camarada para os ciclistas.
É importante incentivar. O ciclista representa um carro a menos na rua, menos poluição, menos estresse. Faz bem para ele mesmo e para a sociedade diz Vinícius.
Ligado na tendência, Cabbet Araújo, um dos sócios da boate Fosfobox e da recém-inaugurada La Paz, no Centro, planeja construir bicicletários próximos aos estabelecimentos. O da La Paz, se autorizado pela Prefeitura do Rio, terá cerca de 200 vagas e será instalado nos fundos de um prédio do Detran, na Rua do Rezende, a duas casas de distância do clube. Para o empresário, é nítido que o número de festeiros que usam bicicletas está crescendo.
Outro dia, tinha umas dez bikes paradas próximas à Fosfobox. Fiquei feliz de ver que o pessoal está aderindo, mas triste em notar que essa galera não tem onde parar com segurança. Daí veio a ideia dos bicicletários.
A vontade surgiu também a partir da própria experiência do empreendedor, que mora em Botafogo e comprou uma bicicleta nova há três meses.
Passei a usá-la para ir até o trabalho todas as noites afirma Cabbet. Gastei R$ 1.600 na compra, mas, nesse pouco tempo, já economizei R$ 1.300 em despesas de táxi e ônibus.
Atenção redobrada
A Comuna, em Botafogo, é outro point frequentado por quem prefere pedalar a caminhar até um ponto de ônibus ou chamar um táxi.
Fico menos refém do transporte público assim. Já cansei de passar mais de meia hora esperando um ônibus de madrugada reclama a estudante de Artes Melissa Daher, que tem 20 anos e mora no Catete.
Mesmo tendo que passar por três bairros para ir à Botafogo, Melissa diz que se sente segura para pedalar de madrugada:
Sinceramente? Me sinto mais segura na bicicleta do que num táxi com um desconhecido. Só não dá para passar no Aterro do Flamengo, porque é mal iluminado e deserto demais.
O short por baixo da saia ou do vestido é indispensável para as meninas ciclistas. Mesmo assim, as cantadas na rua são inevitáveis. As que não gostam alegam que é só passar voando pelos gaiatos para nem ouvir as besteiras que dizem. Mas há quem até curta a interação que o veículo aberto permite.
Já fiquei com um gatinho que me pediu carona na bicicleta. Se eu estivesse trancada dentro de um carro, não teria acontecido conta a maquiadora Camila de Alexandre, de 24 anos, garantindo que o ventinho no rosto faz bem até para a maquiagem. Dá tempo da pele absorver melhor os produtos, e a pintura fica mais natural. Se suar um pouco mais, é só retocar quando chegar. Sem drama.
De tão acostumado a usar sua Monark 10 como meio de transporte, o músico Cassius Augusto, da banda Dorgas, conta que fica desanimado para sair de casa se não puder ir de bike.
Vou para todos os lugares de bicicleta, então por que não para a night? Fora que, gastando menos grana de táxi, dá para ir a duas ou três noitadas calcula o baixista, de 25 anos.
Quem pedala à noite, porém, precisa redobrar a atenção. Zé Lobo, diretor da Associação Transporte Ativo, que incentiva o uso de bicicletas no Rio, lembra que luzes dianteira e traseira são essenciais para que os motoristas vejam o ciclista.
Além disso, boas trancas são recomendadas, já que a bike fica muito tempo parada na rua. Também é preciso ficar muito atento aos cruzamentos, por onde os carros costumam passar direto na madrugada ressalta Lobo.
Os ciclistas baladeiros se orgulham de ter a mesma liberdade de quem sai de carro. Admitem que não veem problema em beber e pedalar (ainda não há Lei Seca para usuários de bicicleta), mas o artista plástico Lucas Stirling, de 24 anos, adepto da bike, é um dos que chamam a atenção para os perigos reais de se misturar direção sobre rodas (duas, quatro) com álcool.
Compromete os reflexos, então não dá para exagerar na dose. Também não recomendo guiar ouvindo música. O ideal é ficar 100% alerta. E, se você sentir que não está bem, é melhor prender a magrela num poste e voltar para casa de ônibus orienta o ciclista, que não dispensa o uso de capacete.
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